Hugo Chávez (1954-2013): revolucionário ou
populista?
A morte de
Hugo Chávez, polêmico líder venezuelano, desperta sentimentos antagônicos. Seus
admiradores e seguidores choram diante das câmeras de televisão que registram a
dor da perda e o sentimento de orfandade que lhes aflige. Seus opositores e
detratores, por outro lado, não conseguem conter o contentamento que a ausência
de Chávez significa para eles, almejando que com sua morte outro cenário
político possa surgir na Venezuela.
Sua
trajetória política, como tem sido trazido a público pela grande mídia, se
inicia com uma tentativa de golpe de estado, no comando de um levante militar
ocorrido em 1992, contra o então presidente Andrés Pérez. Foi então preso e
condenado, tendo cumprido 2 anos de reclusão para depois, beneficiado por
anistia presidencial, retornar ao cenário público venezuelano e ingressar de
vez na política de seu país.
Em 1998 se
elegeu presidente pela primeira vez, com ampla margem de vantagem sobre os
concorrentes. Buscou apoios políticos, queria e se propôs a alterar a
constituição, já bradava aos ventos e a todos que se dispusessem a ouvi-lo que
iria realizar a revolução bolivariana. Aproximou-se de Cuba e se tornou aliado
incondicional de Fidel e Raul Castro. Para os socialistas cubanos esta
aproximação foi providencial já que o país estava vivendo dias difíceis após a
queda da União Soviética e o cancelamento do envio de verbas para subsidiarem a
economia da ilha. O petróleo venezuelano passou a ser fonte para os projetos do
novo socialismo venezuelano e, também, para sustentar as ações dos irmãos
Castro em Cuba.
Reeleito no
ano 2000, Chávez conseguiu maioria na Assembleia e nos Estados, no entanto, sua
aparentemente sólida base de apoio ruiu em 2002 quando oficiais do exército,
após a eclosão de greves gerais em dezembro de 2001 no país - afetando
inclusive a estatal venezuelana que controla o petróleo, maior fonte de riqueza
do país - se rebelaram contra o governo chavista e o levaram a exilar-se por 2
dias numa ilha. O que deveria ser seu expurgo do comando político da nação
acabou se revelando favorável ao próprio Chávez. O feitiço se virou contra os
feiticeiros, pois o presidente voltou ainda mais forte, apoiado pela população
mais humilde, respaldando-se em programas sociais que focavam no apoio a estas
camadas sociais e permitindo que ele se reelegesse em 2004 com mais de 58% dos
votos, índice que seria superado na eleição de 2006, quando Chávez conseguiu
mais de 61% do total de votos venezuelanos.
Caracterizado
por alguns como populista, se autodenominando herdeiro das tradições de Simon
Bolivar, agindo de forma a silenciar partidos opositores e a mídia que se
mostrava independente, centralizando o poder, criando bases de apoio juntamente
a países latino-americanos que contassem com líderes esquerdistas e
caudilhistas como ele (como Evo Morales na Bolívia; Christina Kirchner, na
Argentina; Fidel e Raul Castro, em Cuba; e Rafael Correa, do Equador) e com
ligações de grande proximidade com os governos brasileiros de Lula e Dilma,
elegeu os Estados Unidos como seu grande inimigo, culpando os
"ianques" pelos problemas que afligiam seu país. A Venezuela é um
país que tem hoje a maior inflação entre seus pares sul-americanos, tem alto
grau de desemprego, depende enormemente do petróleo e que, durante o governo de
Chávez, viu sua indústria ser desmontada. Além disso, há questionamentos dos
opositores quanto à licitude dos pleitos que elegeram Chávez, o que coloca em
questão a própria legitimidade política de seus mandatos e em xeque o conceito
de democracia no país.
Reelegeu-se
em 2012, já acometido pelo câncer que o vitimou no início de março de 2013,
indo ainda assim as ruas em campanha até que a vitória estivesse garantida.
Depois do triunfo eleitoral voltou a Cuba, onde já estivera em tratamento para
novas intervenções cirúrgicas. Seu estado tornava-se mais difícil a cada dia,
mas a fé e devoção de seus seguidores não os deixavam crer que mais esta
importante e necessária vitória seria conseguida por seu comandante. Durante
sua ausência, o vice-presidente eleito, Nicolás Maduro, foi empossado, ainda
que isso contrariasse a constituição nacional, que na ausência do eleito,
previa novas eleições a serem realizadas num breve prazo.
O anúncio da
morte de Chávez, feito nacionalmente por Maduro, foi de lágrimas e, ao mesmo
tempo, juramentos de fidelidade aos princípios de Chávez, sempre contando com o
respaldo dos militares. As leis venezuelanas estipulam que em caso de morte do
presidente eleito sejam convocadas novas eleições, que devem acontecer dentro
de 30 dias. Este compromisso foi assumido por membros do governo e da
Assembleia venezuelana.
A
presidência de Chávez, no entanto, evocou conceitos e personagens que, para uma
melhor compreensão e análise de sua história, precisam ser revistos, como por
exemplo:
- Revolução:
Em seu clássico trabalho "Para a crítica da
economia política", de 1859, Karl Marx, define que a revolução é uma
resposta ao modelo social consolidado que existe sobre bases em que há
disparidades socioeconômicas. As divisões sociais estabelecidas privilegiam
determinados grupos, como no capitalismo, em que a burguesia, de acordo com os
princípios marxistas, é a detentora dos meios de produção (riquezas como
dinheiro, terras, máquinas e outros que funcionam como Capital a alavancar lhes
os negócios e aumentar-lhes ainda mais o patrimônio e gerar concentração de
renda na mão de poucos em detrimento da massa), em oposição à maioria, formada
pelos trabalhadores ou proletariado que vende sua mão de obra em troca de
salários. A exaustão do sistema acontece quando o nível de exploração é tão
grande que a massa se rebela e "revoluciona" a sociedade, definindo a
existência de novos modelos ou modos de produção, como o socialismo, em que os
bens pertencem a todos e são geridos por representantes da massa trabalhadora.
- Bolivarismo: O termo deriva do nome do líder Simon Bolivar, um dos artífices, ao lado de San Martin, da independência das colônias espanholas na América do Sul. Nascido em Caracas, atual capital da Venezuela, foi o líder da emancipação dos atuais países sul-americanos: Venezuela, Colômbia, Peru, Bolívia e Equador. Foi formado por tutores, tendo educação que lhe proporcionou a leitura de clássicos gregos e também das obras iluministas. Buscou sempre a unidade latino-americana, tendo organizado o Congresso de Angostura em 1819 e produzido o Manifesto de Cartagena em 1813, ambos elementos que são fundantes dentro de sua política de união de forças entre as nações locais contra o domínio europeu. Buscou apoios externos e sua união com San Martin nas guerras contra a Espanha consolidou a região como área livre. Seu sonho de unidade, no entanto, dissipou-se em virtude das disputas entre os vários grupos que dominavam as regiões onde surgiram os países da América do Sul.
- Socialismo: De acordo com os princípios marxistas, o socialismo seria uma etapa de transição a ser cumprida pelos países que lograssem êxito na luta contra as injustiças do modo de produção capitalista. As lideranças que se estabelecessem teriam que assumir compromissos de maior justiça social, igualdade, melhor distribuição de renda e recursos, reforma agrária e outras ações que caracterizassem o surgimento de uma nova nação, em que os meios de produção não mais pertencessem a particulares, mas a todos, sendo geridos por esta máquina pública formada por elementos oriundos do povo, da massa, da plebe. O socialismo seria transição, pois constituiria uma ponte para o estado ideal pensado e proposto na obra de Karl Marx, o comunismo.
- Bolivarismo: O termo deriva do nome do líder Simon Bolivar, um dos artífices, ao lado de San Martin, da independência das colônias espanholas na América do Sul. Nascido em Caracas, atual capital da Venezuela, foi o líder da emancipação dos atuais países sul-americanos: Venezuela, Colômbia, Peru, Bolívia e Equador. Foi formado por tutores, tendo educação que lhe proporcionou a leitura de clássicos gregos e também das obras iluministas. Buscou sempre a unidade latino-americana, tendo organizado o Congresso de Angostura em 1819 e produzido o Manifesto de Cartagena em 1813, ambos elementos que são fundantes dentro de sua política de união de forças entre as nações locais contra o domínio europeu. Buscou apoios externos e sua união com San Martin nas guerras contra a Espanha consolidou a região como área livre. Seu sonho de unidade, no entanto, dissipou-se em virtude das disputas entre os vários grupos que dominavam as regiões onde surgiram os países da América do Sul.
- Socialismo: De acordo com os princípios marxistas, o socialismo seria uma etapa de transição a ser cumprida pelos países que lograssem êxito na luta contra as injustiças do modo de produção capitalista. As lideranças que se estabelecessem teriam que assumir compromissos de maior justiça social, igualdade, melhor distribuição de renda e recursos, reforma agrária e outras ações que caracterizassem o surgimento de uma nova nação, em que os meios de produção não mais pertencessem a particulares, mas a todos, sendo geridos por esta máquina pública formada por elementos oriundos do povo, da massa, da plebe. O socialismo seria transição, pois constituiria uma ponte para o estado ideal pensado e proposto na obra de Karl Marx, o comunismo.
- Populismo:
Refere-se a uma forma de atuar politicamente
segundo a qual os agentes públicos, em busca de apoio da população, se
aproximam da mesma, oferecendo-lhes benefícios, propondo grandes reformas,
dispondo-se a atuar como representantes da grande massa e, na prática, agindo
de forma a preservar o modelo vigente, sem grandes alterações, aliando-se nos
bastidores a grupos dominantes e promovendo apenas mudanças superficiais.
Projetos de revolução são engavetados em favor de reformas sociais que não
alteram de fato o cotidiano da população, dando aos populares o "pão e
circo" que lhes iludem, mas que, de fato, não lhes agrega os benefícios
reais que necessita, como educação de qualidade, saúde pública de bom nível,
emprego, renda, segurança...
João Luís de Almeida Machado
Doutor em Educação pela PUC-SP
Gerente de Tecnologia Educacional
Sistema de Ensino Poliedro
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